quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Meus amigos experts

Eu tenho uns amigos que são da pesada, sujeitos que mandam muito bem mesmo, cada um em sua respectiva área de atuação profissional. E é claro que eventualmente somos agraciados com interessantes demonstrações da competência desses indivíduos em nossa inverossímil lista virtual de discussões, através de textos explicativos (e extremamente didáticos) que vêm trazer luz a um determinado tema que esteja em debate. Tendo em vista a grande amplitude do espectro de assuntos debatidos por nós (circulam em média 78 mensagens diariamente na nossa lista), pude selecionar alguns conteúdos de notável ortogonalidade, para apresentar para os leitores e leitoras. Desfrutem o conhecimento e tenham uma boa leitura!

(Obs.: Alcunhas foram utilizadas em detrimento dos nomes verdadeiros dos autores dos textos, a fim de preservá-los. Caso seja interesse individual do indivíduo, seu verdadeiro nome - ou até mesmo seu nome científico - poderá vir a substituir a alcunha. Novas alcunhas também podem ser sugeridas.)



Thiogo de Alameida Roubado
Formado em Odontologia, Thiogo está cursando Medicina. É expert em cirurgia buco-maxilo-facial, com vivência profissional no maior pronto socorro do país. O assunto que lhe trouxe motivação para redigir este texto girava em torno de umas fotos de corpos encontrados na floresta, oriundos do acidente envolvendo o boeing 737-800 da GOL (linha aéreas inteligentes). As fotos foram tiradas no local onde os corpos foram encontrados e são demasiado horríveis para serem postadas aqui.


Teve um ou outro corpo carbonizado sim, mas parcialmente. Não se pode basear neles pra determinar o período pós morte. Repare nas vísceras expostas ainda sem estágio distinto de decomposição. Se as fotos das vísceras fossem de uma semana ou mais, não teriam a cor avermelhada. Ia ser uma melequeira irreconhecível. E se vc reparar na pele de alguns cadáveres soltando como se fossem bolhas. Não são bolhas de queimadura, mas sim resultado da decomposição aeróbia inicial. O aspecto de terror e braços encolhidos é característico do estágio inicial (até 4 dias em ambiente úmido) de intensa perda de água. A diferença de estágio de decomposição (saca o branco e o moreno na mesma foto) podem ser devido à exposição diferente ao sol, por exemplo. Saca também uma mancha vermelho escura na cabeça do branco, em frente à orelha. É devido à deposição de um pigmento derivado da decomposição da hemoglobina do sangue que acumula na derme e não rola depois de 3 dias. Mas apesar de eu agradar muito de medicina legal, exceto a parte das larvas, não saco muito disso ainda. Vou levar as fotos pro meu professor de anatomia (médico do iml) e checar minhas amadoras hipóteses.



Marcillo Picimin Mozze
Formado em Direito, exercendo a profissão num conceituado escritório de advocacia no Brasil. Figura ilustre, Picimin (como é carinhosamente conhecido entre os amigos) é um homem à frente de seu tempo. Estávamos discutindo política, naquele fervor causado pelo clima de 2º turno na eleição presidencial. Picimin citou uma tal de "remontagem da Federação, na qual se acabaria com a autonomia política dos municípios" e foi pedido que ele explicasse melhor o significado dessa idéia.


A federação é uma forma de Estado em que diversos entes federados (Estados-Membros, Províncias) mantêm certo limite de autonomia política e administrativa, mas estão reunidos, através de uma Constituição, a uma União Federal, que é quem dispõe de soberania.

Os E.U.A. são o exemplo clássico. Existiam treze colônias que se juntaram (e formaram, a rigor, uma Confederação) pra conseguir sua Independência. Ou seja, formaram uma Nação com alguns interesse comuns, regidos pela Constituição, e deixaram outros assuntos para que fossem decididos regionalmente, de acordo com o interesse de cada colônia.

Em quase todos os lugares do mundo, a União tem determinadas competências relativas aos interesses de toda a nação (derivados da soberania, como a relação com outros países, defesa da nação, assuntos energéticos, etc.) ficando as demais competências com as províncias ou Estados-Membros - que nós conhecemos como os Estados: MG, SP, etc.. Somente os Estados-membros e a União possuem autonomia política, que é competência pra legislar, instituir impostos, etc.. Mas administrativamente, a competência é distribuída de acordo com o interesse nacional (União), regional (Estados-Membros ou Províncias) e local (Município). OU seja, o Município tem autonomia administrativa, mas não política.

Somente no Brasil é que deram autonomia política ao Município. Ou seja, o Município pode criar leis, cobrar impostos. Imagine dar esse poder a cada uma das 900 Câmaras de Vereadores de cidades mineiras, sendo que boa parte dos vereadores sequer sabe escrever um recado...

Mas o pior é que no Brasil há três formas de competência: a privativa, a complementar e a suplementar. A privativa é exercida exclusivamente pela União, a complementar pela União (normas gerais) e Estados-Membros (complementares e gerais quando a União não o fizer) e a suplementar pela União, Estados e Municípios. Na maioria das Federações, poucos assuntos possuem uma competência complementar, todos os assuntos que não são de competência da União, são de competência dos Estados.. É o caso do jogo, da idade pra beber e dirigir nos E.U.A..

Ou seja, aqui no Brasil é uma verdadeira zona. Especialmente porque os impostos de competência da União são repartidos através de fórmulas malucas entre Estados e Municípios.

Acabando com a autonomia política dos municípios, você pode criar um sistema tributário muito mais simples, já que a divisão da arrecadação fica muito mais racional. Ao mesmo tempo, descentraliza a arrecadação, o que a torna mais eficiente. E simplifica pro contribuinte, que não tem que pagar quinhentos impostos diferentes. Pra não falar que é muito mais difícil sonegar num sistema simples e claro do que num emaranhado de leis. A elisão fiscal também se torna mais difícil.



Leogevanílson
Graduado em Ciência da Computação, seu currículo está munido de uma especialização bala. Trabalha como analista (ou algo muito semelhante) e está mandando muito bem conforme podemos ver a partir da seguinte explicação (sucinta) sobre o seu trabalho.


O menu é feito com um componente gratuito chamado skMenu. Usei esse componente no sistema da empresa do Mangua também. É muito bom, tranqüilo de usar, aceita várias customizações, imagens, CSS, e etc. Você pode usar ele estático, através de um arquivo XML, ou dinâmico (o componente expõe todos os métodos para manipulação em run-time) ou os dois ao mesmo tempo (estático e dinâmico).

Na área financeira da L*****, todos os nossos sistemas têm menus dinâmicos, que funcionam exatamente como você falou que quer fazer. Temos um sistema, chamado Segurança, onde cadastramos cada funcionalidade de cada página de cada sistema. Também são cadastrados grupos de acesso, que são associados aos usuários. Depois associamos cada grupo de acesso a cada página e funcionalidades. Assim, cada sistema consulta os dados do sistema Segurança para montar o menu, de acordo com o usuário que está acessando. Funciona muito bem. Posso te mostrar mais detalhes depois, se você quiser.

Quanto ao VS 2005, ainda não tenho muito a manha, pois usei pouco. Ainda estou usando o 2003 por 2 motivos: estou trabalhando ainda com o Framework 1.4.X na L****** (o VS 2005 exige a versão 2 do Framework), e para o BIM (sistema da empresa do Mangua), achei melhor não arriscar a migração, já que meu prazo estava muito apertado e, como é sabido, por mais tranqüila que seja a migração, sempre pode dar algum pau. Pelo que já vi do VS 2005, é muito fino. A produtividade é excelente com os “code snippets” e o design de WebForms (e WinForms) é fantástico (alinhamento de componentes, atribuição de propriedades, etc). Fora os trocentos componentes nativos que vêm junto e os outros milhões que rolam na Internet. É sem dúvida a melhor IDE que já usei.

Para começar a brincar, sugiro que comece pelos tutoriais da própria documentação que você deve ter instalado junto com o VS 2005. Esse conteúdo também está on-line na MSDN Library e pesquise artigos em sites tipo: Linha de Código, Code Project, GotDotNet, .NetRaptors.. tem milhares ...Rola também a MSDN Wiki em português, que está na versão beta e eu ainda não flagrei direito.

Você não terá problemas em programar em C# (pro resto da galera, pronuncia-se “Cê Sharp”), pois a sintaxe é idêntica à de Java, mas sugiro estudar um pouco o Framework .Net, que é o que interessa, afinal. Material na Internet é o que não falta, sendo que a MSDN é a melhor (e oficial) fonte.

Podemos marcar um dia pra eu te mostrar o skMenu, a solução do menu dinâmico e passos básicos do VS 2005.



Tio Rói
Também formado em Direito, passou num concurso para ingressar na PRF e em seguida passou para um posto do tipo "Fiscal da Receita/Fazenda". Ele começou este assunto meio do nada mesmo. Enviou-nos o e-mail e acabamos por receber este excelente texto.


A carga tributária divulgada (próxima de 40% do PIB) é um enganação. Ela é calculada comparando-se o valor do PIB com o valor ARRECADADO com os tributos.

Entretanto, isto não reflete a REAL carga tributária. Isto porque, não é computado o valor sonegado (altíssimo) e a inadimplência (altíssima). Além disso, são computados os valores recebidos em atraso (processos judicias, parcelamentos, etc), provenientes de tributos que deveriam ser pagos no passado, ou seja, não servem para calcular a carga atual.


Por outro lado, da maneira que é feito, o cálculo também não reflete o real impacto na vida do cidadão. Tomemos dois exemplos extremos; arroz e cigarro. Não estou a fim de pesquisar a tributação em cima destes dois produtos, então vou trabalhar com valores estimados, que não fogem muito à realidade. Em um saco de arroz de 5 Kg, no valor de 10 reais, vc paga 3 reais de tributos. Em um maço de cigarros no valor de 2 reais, vc paga 6 reais de tributos. Levando em conta que os 2 produtos são muito consumidos, sendo que um saco de arroz dura muito e um maço de cigarros dura 1 dia, o impacto do cigarro na carga tributária (da maneira como é calculada) é maior, pois a arrecadação com este produto foi maior.


Acontece que todos comemos arroz, enquanto poucos fumam, de maneira que os tributos cobrados sobre cigarro atinge poucos cidadãos, enquanto os tributos cobrados sobre o arroz atinge a todos.


Como a carga tributária é calculada tendo como referênca a arrecadação, o cálculo não distingue arroz do cigarro, por isto não reflete o real impacto dos tributos na vida do cidadão, nem das classe sociais, em razão da diferença de produtos consumidos por estas.


Assim, conclui-se que a carga tributária é, e sempre foi, muito maior do aquela divulgada. Além do fato de não refletir o real impacto dos tributos na vida do cidadão ou das diferentes classes sociais.


Para calcularmos a REAL carga tributária, teríamos que pegar o PIB, separar a porcentagem de cada um dos seus (PIB) componentes na construção do seu (PIB) valor, e calcular a tributação que incide legalmente (em tese) em cada um destes componentes. Assim, chegaríamos a um valor bem mais elevado do que o divulgado.

Tomemos eu, um funcionário público como exemplo. Do meu salário é descontado 19,18% de imposto de renda (cuja restituição é na base de 20% destes 19,18%). Mais 11% de contribuição previdenciária. Total 30,18% de tributos. Somando ao que eu pago de imposto em cada produto (que, de acordo com o próprio governo, é a maior parte da receita tributária), atingimos um valor altíssimo, mesmo levando em conta apenas a carga tributária divulgada (com os defeitos que já mencionei, que diminuem-na). Fica até difícil calcular o que realmente pago de tributos. Imagino que esteja 50%, ou mais, daquilo que ganho.




Viu? QueijosMaravilha também é cultura!

Nenhum comentário: