quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Como poderia apelar para o futuro sendo impossível a sobrevivência física de um vestígio do indivíduo, e até mesmo de uma palavra anônima rabiscada num pedaço de papel?

George Orwell - "1984"

Um comentário:

Anônimo disse...

Ninguém melhor que Orwell detectou a perda de qualquer vestígio da tão propalada por Freud, individualidade humana.

O avanço do sistema capitalista que, mentirosamente alardeia o "seja você" ou o "realize o seu desejo", nada mais faz do que nos uniformizar, sobrepor seu próprio desejo (lucro!) aos nossos (tantos outros!)desejos. Fazemos, ideologicamente, aquilo que a mídia quer. É certo que não vivemos "desideologizados", mas, saber da ideologia que nos rege, leva-nos a não nos descuidar das armadilhas. Também, é importante manter o dedo em riste para o autoritarismo capitalista.

O grande paradoxo é, ainda assim,
acreditar que vivemos numa sociedade individualista... Fomos, como nunca, coletivizados, igualados, normatizados (quase sempre, por baixo!). Apenas uma pequena elite (quanto será? o,5% da humanidade?) destoa de nós, classe média e pobres. Por que?

Em etapas:

Antes: "indivíduos" (poucos produtos para se consumir)- criava-se, inventava-se, transformava-se (atos individuais).

Depois: "consumidores" (crescimento do capitalismo e muito produto para se consumir) - nada se cria, inventa-se ou se transforma. Compra-se de tudo (tudo igual!!! alimentos, roupas, carros, toda espécie de tecnologia - sempre em atos coletivos; para não sair dos trilhos e tornar-se um ET.

Hoje: "individados" (compramos tanto via crediário, cartão de crédito, empréstimos, que parecemos estar sendo sugados por um buraco negro - haja energia - trabalho - para jogar lá dentro!

Parecemos cachorros correndo atrás do próprio rabo. trabalho, consumo, mais trabalho, tudo para encher as burras do sistema.

Nada restou da nossa individualidade (vontade, escolha, criatividade). Não somos nós mesmos. Sujeitos à mídia, tornamo-nos assujeitados.

E, pior, permanecemos invisivelmente vigiados (panóptico) para perpetuar o consumo, sem direito a tremer de medo. Não somos livres para não escolher. Não podemos escolher não escolher, o que quer que seja.

Orwell, em 1948 e desde muito antes (Revolução Russa, por exemplo) estava à espreita, acompanhando todo o movimento político-econômico mundial; não perdeu de vista as possibilidades do poder, fosse esse socialista ou capitalista. Anteviu, com sua inteligência sui generis, aquilo que estava preparado para nós. Um dos poucos equívocos cometidos por ele foi imaginar que nos sentiríamos incomodados com a excessiva vigilância. E não estamos nós sempre a sorrir para as câmeras que soterram qualquer possibilidade de nos sentirmos indivíduos? Em nome do quê, nós sorrimos assim para nossos vigilantes invisíveis?