Não são raras as vezes em que, ao responder à pergunta “qual é a sua profissão?”, escuto comentários do tipo “você é louco!”, ou o clássico “você deve ser muito inteligente!”. Ora, escolher a Física como profissão não é sinal de inteligência, muito menos de loucura. Loucura seria escolher uma atividade laboral que não te desse o mínimo de prazer em seu exercício. E “inteligência” não se mede pelo conhecimento em matemática ou em qualquer Ciência Exata, mas sim pela relevância dos resultados que você obtém em seu trabalho, seja ele qual for.
Inteligência e loucura à parte, escolher a profissão de cientista ainda requer uma certa dose de coragem. Pelo menos no Brasil, um país que, apesar do notável (e recente) crescimento no panorama econômico mundial, ainda investe pouco em Ciência e Tecnologia, em comparação com diversos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Além disso, ainda existe uma certa idéia engessada na cultura brasileira de que a academia é uma escolha profissional ruim, com péssimas perspectivas financeiras. Mas isso, na verdade, é uma grande falácia, oriunda de uma geração acostumada a respeitar somente um seleto e celebrado conjunto de profissões, tais como Engenharias, Direito e Medicina. E,infelizmente, alguns jovens que optam por carreiras científicas, ainda têm que lidar com a dificuldade de “convencer” seus familiares de sua opção profissional.
Mas, uma vez vencida a barreira da “coragem”, um horizonte profissional muito interessante se abre diante de você. Um horizonte bastante diverso daquele que se vê no “mercado padrão”, aquele das empresas, indústrias, escritórios e hospitais. Você se vê diante de uma gama enorme, quase infinita, de conhecimento. E, tão importante quanto a perspectiva do aprendizado, o surgimento de novos desafios: problemas não resolvidos, perguntas não respondidas e questões em aberto. Esse é o desafio do cientista: fornecer respostas para as muitas perguntas existentes e, muito mais do que isso, propor novas perguntas relevantes para a comunidade científica. A cada resposta fornecida, muitas novas perguntas surgem. Ainda bem.
Dentro desse contexto da pesquisa científica, posso falar com certa propriedade do papel do Físico. É claro que ainda tenho muito chão para percorrer, mas já posso compartilhar a experiência que adquiri nesses meus pouco mais de 10 anos de profissão.
A Física é uma ciência muito interessante, não só por sua proposta primordial de tentar entender racionalmente como funciona o universo em torno de nós, mas também por sua notável interdisciplinaridade: o físico interage com profissionais (cientistas ou não) de diversas áreas, tais como químicos, biólogos, cientistas sociais, filósofos, economistas, engenheiros e, pasmem!, administradores de empresas. Isso demonstra que a Física é muito mais que as Leis de Newton, a Mecênica Quântica ou a famigerada equação de Einstein para a energia de repouso de um corpo, E=mc2.
O segredo dessa forte interatividade está no fato de que o físico é um profissional treinado para resolver problemas. Não somente problemas como o consagrado plano inclinado da Mecânica Clássica, ou os ciclos da Termodinâmica, ou o átomo de Hidrogênio. Mas problemas em geral. O físico está preparado para encarar uma situação, i.e. um problema, de forma pragmática: qual é a situação atual? Aonde se quer chegar? Quais são as ferramentas à minha disposição? Qual a forma ótima de chegar ao objetivo proposto?
É claro que, apesar da aparente simplicidade da proposição da “equação”, um conhecimento técnico específico da área em que se localiza o problema é necessário para o cumprimento da tarefa (Quais são as ferramentas à minha disposição?). Não estou dizendo que um físico pode chegar, do nada, a uma empresa e começar a ditar algoritmos para o melhor estratagema corporativo. Longe dessa petulância! Não obstante, com algum aprendizado das ferramentas disponíveis no mercado de atuação de tal empresa, o físico é capaz de desenvolver habilidades para elaborar estratégias com destreza diferenciada. E isso tem sido reconhecido no últimos tempos, haja visto que há físicos ocupando importantes posições em diversas empresas de inúmeros ramos profissionais, desde a metalurgia até o mercado financeiro.
Cai, portanto, o mito do físico nerd que domina nada mais que equações, gráficos e conceitos abstratos. O físico é um profissional treinado para resolver problemas.
Pelos Flancos: intelegente toda vida.